Em algum lugar do planeta, no hemisfério sul, especificamente no Brasil existe uma mulher interessante chamada Odara.
Filha de um pai que nunca conheceu e de uma mãe que é digna de todos os troféus e Nobel da paz, do amor, do altruísmo, Odara existiu para o mundo em algum dia, em algum mês dos anos oitenta.
O seu nome veio de uma música de Caetano Veloso – sua mãe é fã; apesar de hoje ela saber que essa música enigmática pode referir-se ao uso de drogas, Odara prefere a explicação de sua mãe: Seu nome significa tudo que é bom e inexplicável.
Odara já passou e viu vários acontecimentos em sua vida. Sua memória mais marcante é ter passado fome. Por isso que ela é tão ligada na questão social e política; nunca entendeu a desigualdade que assola o mundo. Ela costuma dizer que é a Mafalda de Quinho com o vestido verde e amarelo.
Ao divagar pelas profundas lembranças de sua história, ela se delicia com os momentos de sua infância.
- Nossa como era bom brincar de amarelinha! Rabiscar o chão de giz como o Renato Russo!
- E quando a turma tocava a campainha dos vizinhos e saía correndo... ah como era bom e ao mesmo tempo sarcástico!
- Minhas bonecas que eram minhas filhas! Eu tinha uma família linda!
Este saudosismo faz ela sentir-se melhor e sortuda por ter vivido em uma época tão boa.
Odara é muito observadora, adora observar as pessoas principalmente os que vivem em mundos diferentes. Às vezes julga, mas a maioria das vezes é observação que irá acabar em reflexão.
Um dia qualquer andando na rua Odara encontrou em seu caminho um grupos de abastados.
Desses de dar nojo, sabe? Filhinhos de papai que pensam no máximo se vão ao shopping hoje ou não.
Odara sentou-se ao lado deles e começou a observar a conversa e os movimentos corporais.
- Hoje eu to puta com Jesus! Acredita que meu pai só me deu R$ 500,00 para eu ir ao shopping? Vê se pode, não dá pra comprar nada! – disse uma ruivinha cheia de sardas fúteis.
- Hahahahaha – essa foi a resposta das outras.
- Preciso ir a academia, to querendo pegar aquela loira cachorra. De hoje não passa, deixa ela ver só o carro que meu pai me deu – disse um garoto insensato.
- É isso aí garanhão! Come mesmo – respondeu seu amigo idiota.
E Odara foi escutando aquilo e mais um monte de besteiras asquerosas, enquanto o magote de riquinhos gravavam tudo em seus celulares ultramodernos.
- Dinheiro compra quase tudo, menos autenticidade e personalidade!(pensou Odara)
Ao sair do local se deparou com o outro lado da moeda. Crianças sendo escravizadas no semáforo, mendigos sendo tratados com desdém.
- Não consigo entender porque o mundo é tão desconexo e injusto!
Odara sabe o que acontece, no fundo ela tem consciência disso. Ela estuda sobre essas coisas e sabe da cultura capitalista, é interessada por história e concluiu que nesse mundo jamais haverá igualdade.
Todos os dias ela é tocada por estas diferenças, mas de certa forma tem que ser indiferente por questão de sobrevivência.
Apesar de sua história ser tão densa e por vezes considerada difícil (se contasse daria um livro), Odara só tem que agradecer aos Deuses por ela ter sido feita aqui no Brasil, pelos seus pais e por ter nascido nos anos 80.
Porque ela sabe que a geração dela foi à última a curtir um mundo que por mais injusto era de uma leveza sutil.
Hoje no século 21 os humanos são máquinas projetadas com um modelo praticamente padrão no qual as pessoas se escravizam e morrem para ter.
De uma coisa ela tem quase certeza; vai morrer sem entender o funcionamento do universo.
- Mas também quem conseguiu? Pensa Odara.
O desejo de Odara? Que o mundo seja tão bom e inexplicável como seu nome.]
**Dois finais**
A constatação de Odara? Que o mundo é tão bom e inexplicável como seu nome.
No final a preferência é sua.
Ass: CLS
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
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