Maria acorda de uma noite mal dormida, espreguiça-se, olha no espelho e não se reconhece.
Ainda pensando se está dormindo ou não, se enfia debaixo do chuveiro gelado; está quente e o dia é longo.
Depois de toda a rotina matinal feita, Maria olha no espelho novamente e continua a não se reconhecer. Será o cabelo? A sobrancelha? Os olhos? A face inteira? Ela não liga, já está atrasada para o trabalho, se ela não melhorar até o final da tarde vai ao médico.
Passando pelas ruas, pelo ônibus, pelo metrô Maria pensa o quanto queria ser um monte de pessoas ao mesmo tempo. Queria tomar para si as características das quais ao olhar uma pessoa ela sentira vontade de sentir ou ser prontamente.
- Nossa que menina mais linda, que olhos bonitos, que conjunto esplêndido! Quero ter isso para mim!
- Que beijo malicioso e molhado! Gostaria de provar!
- Que roupas mais estilosas e quanto luxo! Humm também queria isso!
- Agora o mais importante! Gostaria de ter a vida de todas essas pessoas, senti-las, sê-las!
Maria em todo seu dia reparou que as pessoas olhavam para ela com uma certa curiosidade, outras com repulsa, enfim todos reparavam nela.
Apesar de não se reconhecer mais Maria achava interessante; era a primeira vez que o mundo reparava nela.
E o dia foi passando, e ela não conseguiu olhar-se mais no espelho. Estava confusa, cega, o que estaria acontecendo com ela? Seria uma metamorfose?
Decidiu ir ao médico.
No caminho do médico como coisa do destino encontrou as pessoas que ela mais amava; mãe, irmã, namorado, amigo. Por um instante ela achou que eles não iriam reconhecê-la, mas eles foram se aproximando e ela sentiu o reconhecimento.
- Olha que coincidência mais louca! Vocês todos por aqui!
E cada um explicou o motivo para ir de encontro com Maria – explicações que não cabem aqui citar, são motivos além de uma compreensão exata.
Depois de encontrá-los e sentir que apesar de ela não se reconhecer havia pessoas no mundo que a reconheciam, Maria parou, pensou e percebeu o que havia acontecido.
De tanto querer ser ou sentir a vida das pessoas ela acabou tomando para si características, sensações da qual nunca lhe pertenceram, achando que estaria experimentando coisas novas, foi esquecendo de ser ela mesma, em essência, em vida.
Tomada a devida consciência, Maria olhou-se no espelho novamente e se reconheceu, percebeu o quanto ela era única no mundo, que apesar de o mundo não estar nem aí, ela vive, ela faz parte do ciclo.
Abraçou todos os que amava e seguiu rumo a um bar, pois Maria adora cerveja e queria comemorar!
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
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Adorei!
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